segunda-feira, 6 de julho de 2015

O Islã chega ao Egito

Em 6 de julho de 640 d.C., um exército árabe liderado por Amr ibn al-A'as derrotou um exército bizantino mais numeroso perto de Heliópolis, no Egito.

No momento da morte de Maomé, os árabes muçulmanos já controlavam toda a Península Arábica, e seus sucessores, os califas Abu Bakr e Omar, expandiram as fronteiras para o norte, conquistando a Síria do Império Bizantino e tomando praticamente de assalto a Pérsia sassânida. Era o momento propício para os árabes recém unificados ampliarem seus territórios, porque seus vizinhos bizantinos e sassânidas haviam acabado de travar uma guerra de atrito por uma geração inteira, e estavam economicamente e militarmente exaustos. E o rico Egito, então sob controle bizantino, estava logo ali.

A invasão do Egito começou aparentemente despretensiosa - ou temerária. Amr partiu com apenas 4000 soldados recrutados de tribos árabes e alguns mercenários conversos para tomar a província economicamente mais importante do Império Bizantino. O califa Omar, ao saber da iniciativa, ordenou em carta encaminhada por um mensageiro o recuo do pequeno exército para esperar por reforços. Mas o comandante, desconfiando do teor da mensagem, convenceu o mensageiro (que não sabia do conteúdo da carta) a seguir com ele para o Egito. Quando ele, enfim, discutiu com seus homens as ordens do Califa, eles já estavam no Egito, e, portanto, deveriam seguir em frente. Quando recebeu alguma resposta, Omar não teve escolha a não ser arregimentar um novo exército em Medina para despachá-lo ao Egito.

A marcha pelo leste do Egito foi tranquila. Tomaram algumas vilas sem resistência. Reforçados por beduínos do Sinai, os árabes conquistaram a fortaleza de Pelusium sem muita luta. A resistência bizantina apareceu durante o cerco a Bilbeis, a um dia de marcha de Memphis. A resistência ali ocorreu quando os bizantinos rejeitaram os termos de Amr de se converterem, ou pagarem a jizya - a taxa cobrada pelos muçulmanos aos praticantes de outras religiões em seu território - a despeito das intenções do governador do Egito, Ciro, que se contentava em se render e pagar a Jizya. Bilbeis também caiu. Amr marchou então para a fortaleza de Babilônia, onde hoje fica o Cairo, e ali finalmente os árabes se viram num impasse - seus 4 mil homens eram incapazes de tomar o forte, e desmembrar o exército para desviar ou tomar outras posições era inviável. Em julho de 640, antes de al-A'as enviar um pedido de reforço ao califa, um contingente de 16 mil homens já estava a caminho.

Babilônia ficava a poucas horas de marcha de Heliópolis, um antigo centro cerimonial e cultural. Amr decidiu direcionar a maioria das suas forças com os novos reforços para tomar Heliópolis, enquanto um pequeno contingente mantinha Babilônia imobilizada. Teodoro, comandante bizantino no Egito, mobilizou 20 mil soldados para enfrentar os cerca de 15 mil árabes. Diante de Heliópolis, o comandante árabe, consciente da desvantagem numérica, organizou seu exército em três destacamentos que se deslocaram rapidamente, confundindo os bizantinos: um terço foi para o leste e se posicionou em uma colina fora das vistas do comandante inimigo; outro terço manteve posição, oferecendo combate; um último terço se deslocou para o sul, bloqueando a rota de fuga. Os bizantinos atacaram o centro reduzido dos árabes sem preocupações. Ou Teodoro não despachara batedores para avaliar as posições inimigas, ou não lhes deu ouvidos, porque imediatamente os árabes desceram as colinas e atacaram os bizantinos pelo flanco e retaguarda, causando grande confusão. Os que sobreviveram ao massacre foram aniquilados enquanto tentavam fugir pelo sul. A vitória foi quase completa - Teodoro e alguns poucos soldados conseguiram escapar com vida.

Bizantinos e árabes ainda se encontrariam algumas vezes até a queda de Alexandria, em novembro de 641. Mas a derrota em Heliópolis selou definitivamente o destino do Egito. Os gregos, que governavam Bizâncio, eram uma pequena elite no Egito, de maneira que o sucesso da invasão árabe acabou instigando um levante da maioria de egípcios nativos, sobretudo de cristãos monofisistas (cuja fé era herética para a ortodoxia bizantina), que consideraram que a Jizya e o governo islâmico seriam preferíveis aos impostos e à má vontade do governo bizantino. Os árabes conquistaram rapidamente o interior do país com a conivência dos nativos, e de fato o governo de Amr ibn al-A'as foi benevolente para com os cristãos, aplicando a lei islâmica estritamente de modo a isentá-los do serviço militar e várias outras obrigações civis e permitir seu culto, desde que pagassem a Jizya (em dinheiro ou espécie), Mais tarde, o Califado Omíada que se seguiu endureceu seus impostos, induzindo os egípcios em dificuldades a se converterem (espontaneamente, ou à força), determinando a supremacia islâmica e o arabismo sobre o cristianismo no país. O Império Bizantino, por sua vez, perdia a sua principal fonte de grãos e o controle inconteste do Mediterrâneo - havia séculos, transformado num "lago" romano. Abalado economicamente e sem forças para resistir, os gregos perderiam rapidamente o resto de seus territórios na África, possibilitando aos árabes chegarem tão longe quanto o sul da França (onde foram brecados pelos francos) e expandirem o Islã em poucas gerações a um território tão vasto quanto o cristianismo nos séculos anteriores.

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