quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A queda de Esparta

Em 5 de agosto de 371 a.C., Esparta sofreu um revés decisivo depois de se tornar o poder hegemônico do mundo helênico pós-Guerra do Peloponeso, ao ser derrotada por um exército tebano menos numeroso na Batalha de Leuctra.

A Guerra do Peloponeso foi uma guerra fratricida entre as ligas ateniense (Liga de Delos) e espartana (Liga do Peloponeso), rivalidade surgida durante a agressiva ascensão ateniense no Mediterrâneo na segunda metade do século V a.C., e alimentada com dinheiro persa que, vendo-se impossibilitado de conquistar a Grécia continental, procurou desestabilizar a região a seu favor apoiando Esparta. A guerra e eventos correlatos (como um surto de peste em Atenas em 430 a.C.) fragilizou a economia do mundo grego e as relações entre as metrópoles e suas colônias, especialmente na Itália e na França. Porém, com a vitória final de Esparta, dentro da Grécia propriamente dita aquela cidade-estado militarística se tornou o tênue núcleo de influência na política da região.

Tebas, por outro lado, manteve seu papel tradicional como a principal cidade da região da Beócia, o "antebraço" montanhoso de terra que liga tanto a Ática (a península onde se situa Atenas) e o Peloponeso (a península onde se localiza Esparta) ao resto da Europa. Durante as Guerras Pérsicas, Tebas se manteve pragmaticamente do lado dos invasores, vendo ali uma oportunidade de suplantar Atenas e Esparta como o poder máximo do mundo grego, com a bênção dos seus prováveis conquistadores. Os persas acabaram recuando, e Tebas viu a ascenção das duas cidades rivais. Com o advento da Guerra do Peloponeso, Tebas atuou do lado espartano em reconhecimento ao apoio destes quando Tebas deixou de presidir a confederação de cidades beócias, a Liga Beócia, em consequência da sua aliança com os persas.

Com o fim da guerra, Tebas começou a alterar as regras da Liga quanto à eleição de delegados para o conselho militar (os beotarcas), favorecendo a si mesma em detrimento das menores cidades federadas. Esparta insistia que todos os membros da Liga Beócia deveriam ter o mesmo tratamento, e atuou para dissolvê-la, chegando a ocupar Tebas com uma guarnição e designando delegados para administrar a cidade. Em 378 a.C. uma revolta resultou na expulsão dos espartanos e na deflagração de um conflito armado, inicialmente de proporções modestas. No primeiro momento, Esparta havia conseguido posicionar uma guarnição na cidade de Tespias, mas seu capitão, por conta própria, resolveu se aproveitar da situação para tentar um assalto ao porto ateniense do Pireu, trazendo Atenas para o conflito ao lado de Tebas.

As potências de Atenas e Esparta estavam novamente em guerra, enquanto Tebas lutava na Beócia para expulsar os espartanos e reconquistar sua influência na região. Em 373 Tebas reconquistou Plateia, pequena cidade beócia que teve papel importante na expulsão dos persas e era tida como aliada e em grande estima por Atenas. Por isso, muitos plateus se refugiaram lá, e suas queixas contra Tebas tiveram grande impacto na opinião pública. Logo Atenas procurou mediar um acordo de paz entre ela, Tebas e Esparta. No ato da assinatura, o general tebano Epaminondas alegou que ele deveria assinar por toda a Beócia, não apenas por Tebas. O rei espartano Agesilaus II resolveu o impasse excluindo Tebas do tratado, assinando a paz apenas com Atenas. Esparta entendia que precisava esmagar a rebeldia tebana para assegurar sua hegemonia. O estado de guerra continuaria entre as duas cidades, embora os combates fossem raros.

Esparta, que tradicionalmente possuía dois reis, enviou um exército de talvez 10 mil hoplitas de sua base avançada em Fócis, no sudoeste da Beócia, sob comando do rei Cleômbrotos. Os espartanos avançaram uma boa distância antes da notícia chegar a Tebas. Na ocasião, Tebas havia restaurado sua supremacia sobre a Liga Beócia, e eleito seus quatro beotarcas. Foi com a diferença de um voto entre eles que os beócios, sob comando de Epaminondas, relutantemente concordaram em mobilizar um exército para enfrentar Esparta.

Os dois exércitos se encontraram perto da vila de Leuctra, a pouco mais de 10 quilômetros de Tebas. O primeiro ataque, à distância, fez com que os tebanos que seguiam o exército (escudeiros, comerciantes, prestadores de serviço em geral) corressem para trás das filas. Os tebanos estavam em desvantagem numérica, e isso, incidentemente, fortaleceu as suas linhas. Um ataque da cavalaria espartana foi repelido, e o seu recuo causou uma certa confusão na linha espartana, impedindo um ataque direto. Epaminondas então tomou a ofensiva de uma maneira pouco ortodoxa para um exército grego - ao invés de compor as falanges como uma linha uniforme em largura e profundidade, com os melhores soldados à direita, ele concentrou suas forças no flanco esquerdo (colunas de 50 homens de profundidade, contra 12 do flanco espartano) sob liderança do colega beotarco Pelópidas, atacando em diagonal primeiramente por ali, quebrando o flanco direito espartano. Ali tombou Cleômbrotos, e começou a debandada do seu exército. A chegada de um reforço da Tessália persuadiu os espartanos a recuarem de volta à Lacedemônia, ao invés de reagrupar e tentar uma nova ofensiva.

A vitória em Leuctra permitiu a Tebas expandir sua influência inconteste não apenas na Beócia, mas em grande parte da Grécia, suplantando seus rivais históricos - a derrota desmitificou a superioridade militar de Esparta. O balanço de forças, contudo, continuou pendendo para um lado ou para o outro. Nove anos mais tarde, Tebas venceu novamente Esparta na Batalha de Mantineia (onde Epaminondas e Agesilaus se encontraram novamente), obliterando o controle espartano sobre o próprio Peloponeso, porém perdendo, por outro lado, o valioso Epaminondas. Com os dois lados enfraquecidos, haveria pouca resistência contra o avanço - pela habilidade militar e política - da Macedônia sobre a Grécia. Mais do que um novo equilíbrio de poderes, a batalha trouxe uma inovação para os exércitos gregos: a formação oblíqua de Epaminondas, que tornava seu exército muito mais flexível contra a rigidez formal da falange grega tradicional. Esse estilo de combate inspiraria Filipe II (que estudou em Tebas) e Alexandre, o Grande, e possibilitaria as suas contínuas vitórias contra gregos e persas e a consequente expansão do mundo grego sobre a Ásia e o Egito sob domínio macedônio.

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