quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Colombo

Em 3 de agosto de 1492 Cristóvão Colombo, no comando da nau Santa Maria, zarpou do porto de Palos de la Frontera, na Espanha, para a viagem que o levaria à América.

Desde que os mongóis conquistaram tudo entre a Hungria e a Coréia, produtos de origem asiática, como especiarias e seda, se tornaram artigos de grande demanda na Europa. Com a ascensão dos turcos otomanos e a sua conquista de Constantinopla em 1453, as rotas comerciais pela Ásia ficaram muito restritas para os mercadores europeus, de maneira que estes artigos se tornaram escassos, ou proibitivamente caros no Ocidente. Enquanto potências marítimas, como Veneza e Gênova, tentavam, por meio de acordos ou persuasão, furar o bloqueio turco, e Inglaterra e França, outras potências europeias voltadas para o oceano, viam-se presas a conflitos internos e externos, as pequenas nações ibéricas tomaram a dianteira da navegação oceânica, buscando uma alternativa às rotas tradicionais para se chegar ao mercado asiático. Assim, Portugal, independente desde 1139, lançou-se primeiro ao mar e desenvolveu uma escola de navegação e cartografia incomparáveis na Europa quatrocentista. Mas alguns pequenos eventos chave fariam com que a balança começasse a pender para os seus vizinhos, os jovens reinos de Castela e Aragão.

Cristóvão Colombo nasceu em território genovês, filho de um tecelão que complementava a renda familiar com uma banquinha onde vendia queijos com o pequeno Cristóvão. As circunstâncias da vida pessoal de Colombo (como a própria data precisa e local de nascimento) são nebulosos, mas sabe-se que em 1873, possivelmente inspirado pelo negócio do pai, Cristóvão se tornou aprendiz de importantes famílias de negociantes genoveses, e teria embarcado em algumas expedições comerciais pelo Mediterrâneo visitando algumas colônias genovesas. Em 1476 ele navegou pelo Atlântico até a Irlanda, talvez até a Islândia. No retorno da Irlanda, entrou a serviço de um navio português e viajou a Lisboa, onde encontrou seu irmão mais novo, Bartolomeu.

Bartolomeu Colombo foi uma pela fundamental para os eventos que levaram Cristóvão à América. Enquanto o irmão mais velho começara a trabalhar com o comércio em Gênova, Bartolomeu se tornou aprendiz de uma oficina de cartografia em Lisboa. O conhecimento cartográfico na Europa medieval era muito baseado num mapa muito fragmentário do mundo conhecido pelo cartógrafo grego Ptolomeu, elaborado originalmente no século II e reproduzido exaustivamente por copistas medievais. Este mapa separava fisicamente os oceanos Índico e Pacífico, estabelecendo a África como uma barreira de terra que ia até os confins da Terra ao sul. Contudo, desde a década de 1460 Portugal vinha tomando a iniciativa de tatear a costa da África à procura de uma passagem marítima para as "Índias" (termo que se referia não apenas à Índia em si, mas a todo sudeste asiático), desviando das rotas conhecidas dominadas pelos turcos otomanos no Mediterrâneo e na Ásia por terra. Estudando os clássicos (direta ou indiretamente, através do trabalho de estudiosos muçulmanos sobre clássicos gregos) e coligindo o as novidades trazidas por navegadores e astrônomos, Bartolomeu estava convencido de que uma rota para o oeste, Atlântico adentro, seria uma rota mais curta para as Índias do que o contorno da África, cuja extensão ainda não era totalmente conhecida. A ideia de que a rota do Atlântico seria mais curta não era novidade: ela havia sido proposta pelo astrônomo florentino Paolo Toscanelli ao rei Afonso V de Portugal quando Bartolomeu ainda era um aprendiz (porém o rei a rejeitou). Bartolomeu apresentou sua proposta ao rei João II em 1485, mas um corpo de especialistas avaliou que a distância proposta seria insuficiente para chegar à Ásia pelo oeste, e o projeto foi recusado.

O encontro dos irmãos em Lisboa levou Cristóvão a se estabelecer em Portugal. Bartolomeu o convenceu de que era possível alcançar a Índia pelo Atlântico, e Cristóvão viu nisso uma possibilidade de levar vantagem no estabelecimento do comércio entre Portugal e Índia. Quando Cristóvão reapresentou o projeto a João II em 1488, Bartolomeu Dias, navegador português, havia acabado de regressar da expedição onde encontrara o Cabo da Boa Esperança, o ponto mais setentrional da África de onde os portugueses poderiam se lançar diretamente à Índia. O rei português não demostrou mais interesse em Colombo. A proposta inicial dos irmãos Colombo (que incluía armar três naus e nomear Cristóvão "Grão Almirante do Oceano" e governador de todas as terras que encontrasse) foi rejeitada por uma comissão nomeada pelo rei João II, porque a distância estimada pelos Colombo era curta demais para se chegar à Ásia (e de fato era).

Cristóvão deixou Lisboa e tentou por conta própria financiamento para a sua expedição em Gênova e Veneza, sem sucesso. Bartolomeu tentou o rei Henrique VII da Inglaterra (quando foi assaltado por piratas) e depois Carlos VIII da França, em vão.

Em 1486, antes da recusa final de João II, Cristóvão ofereceu o projeto à corte unida de Castela e Aragão. Tanto num como noutro, o projeto foi recusado por causa da distância subestimada até a Ásia. Contudo, os reis Fernando e Isabel foram cativados pelo conceito de uma rota oceânica, e, para evitar que Colombo levasse o projeto a outro país, decidiram pagar-lhe um estipêndio anual e oferecer-lhe hospedagem e alimentação no país. Entusiasmado, Cristóvão continuou negociando com os reis católicos até conseguir sua aprovação em janeiro de 1492. A Reconquista estava completa, e os reinos espanhóis podiam direcionar seus investimentos em outras direções. Contudo, na audiência decisiva, Isabel recusara a última proposta de Colombo, e ele estava deixando o castelo de Alcázar no lombo de um burro quando Fernando interveio e pediu que Isabel enviasse um soldado para buscá-lo de volta. Nos seus escritos, Cristóvão creditava a Fernando a "razão pela qual aquelas ilhas (as Antilhas) foram descobertas". Seu segundo filho foi batizado Fernando em sua homenagem.

De janeiro a agosto as três naus foram armadas e preparadas, e sua tripulação contratada. Colombo capitanearia a caraca Santa Maria (anteriormente batizada "Galega"), a maior das três, enquanto Martin Alonso Pinzón e seu irmão Vicente Yáñez (que em 1498 chegaria à costa do nordeste brasileiro a caminho do Orinoco) pilotariam as caravelas Pinta e Nina, respectivamente. No dia 3 de agosto, a flotilha partiu o porto de Palos de la Frontera, no sudoeste espanhol, em direção à possessão espanhola das Ilhas Canárias, onde renovaram as provisões e fizeram reparos. De lá partiram em 6 de setembro para uma jornada de 5 semanas para o oeste até avistarem terra (a costa da ilha de Hispaniola, na atual República Dominicana). O contato com os nativos foi amistoso (com a bênção do cacique Guacanagari, Colombo deixou para trás uma pequena colônia com parte de seus homens no Haiti), exceto pelo encontro com os ciguayos no noroeste de Hispaniola, que, se recusando a fazer negócios com os estrangeiros, acabaram ferindo dois tripulantes. Porém, os relatos que trazia da existência de ouro e outras riquezas em potencial (como os próprios nativos que contactara, que lhe pareceram dóceis e facilmente conquistáveis) seriam de grande valia aos seus patronos. Para Colombo, a concretização da sua posse sobre aquelas terras, o direito a 10% de toda a produção e de 8% sobre todo o comércio com a coroa, ou seja, a garantia de uma vida de fartura para si e seus filhos.

A história da colonização das Américas ainda não estava selada. Na sua viagem de retorno, Colombo, pilotando a Niña, se viu obrigado por uma tempestade a buscar abrigo em Cabo Verde, possessão portuguesa. Depois de rezarem em uma igreja por terem sobrevivido à tormenta, a tripulação foi presa por dois dias por suspeita de pirataria. Mais uma tempestade desviou o navio para Lisboa. Ali Colombo conheceu Bartolomeu Dias, que o entrevistou antes de encaminhá-lo ao rei. João II, no entanto, não estava na cidade, e demoraria uma semana até Colombo encontrá-lo em Vale do Paraíso. Aos relatos do navegador sobre as terras encontradas do outro lado do oceano, João apenas considerou a expedição uma violação de tratados (o tratado de Alcáçovas de 1479 concedia a Portugal a posse de todas as terras a serem descobertas a oeste e ao sul das Canárias, sugerindo que os portugueses, de alguma maneira, já soubessem da existência da América embarreirando a passagem marítima para a Índia). Apenas depois disso Colombo revelou suas descobertas os reis espanhóis.

Colombo retornou à América (que só receberia este nome em um mapa impresso na Suíça em 1507, em homenagem a Américo Vespúcio, que acompanhou Colombo nas viagens seguintes e depois entraria a serviço da coroa portuguesa) mais três vezes, atingindo o continente de fato apenas na terceira viagem, quando margeou a costa venezuelana e desceu na Península de Paria. De fato, recebera o título de governador e Almirante do Oceano. Contudo, as desventuras de Colombo depois da quarta viagem merecem um artigo à parte, e gradualmente a coroa espanhola tomou e redistribuiu as terras prometidas à família (até fins do século XVIII, descendentes de Colombo ainda tentavam judicialmente recuperar a herança de Cristóvão).

Até o fim em 1506 Colombo estava convencido de que as ilhas que descobrira faziam parte do extremo oriente asiático (não a Índia propriamente dita, já que as pessoas que viviam ali não correspondiam às expectativas de "civilização" que esperavam da Índia). No seu plano de viagem, os irmãos Colombo davam como certo de que a Eurasia cobria 225° de longitude da curvatura terrestre (tese de Marino de Tiro, antecessor de Ptolomeu), e subestimava o comprimento longitudinal de um grau (adotavam a medida do cartógrafo árabe Alfraganus, sem se darem conta de que o autor se referia à milha arábica, mais curta do que a romana que os Colombos adotavam), de maneira que a América estava mais ou menos onde os Colombos previam que estaria a Ásia. Contrariando a crença popular de que, antes de Colombo, os europeus acreditavam que a Terra era plana, os especialistas que avaliavam e reprovavam o plano dos Colombo intuíam que a distância era curta demais - apenas não previam a existência de um continente desconhecido bem ali.

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